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NIKOLAI ZABOLÓTZKI
(1903 – 1958
Filho de um agrônomo, passou a infância no campo do setentrião russo. Estudou na Faculdade de Letras de Petrogrado.
Renunciando a ensinar Literatura, tornou-se escritor profissional. A partir de 1926, publicou na imprensa muitos poemas, inclusive poesia para crianças. Seu primeiro livro saiu em 1929, marcado pela influência das correntes modernas, sobretudo de Khlébnikov, embora Zabolótski usasse com mais parcimônia os novos recursos poéticos. Sua obra dessa fase distingue-se pela tendência para o estranho, o fantástico, o descomunal, surpreendido quer em visões de sonho, quer em aspectos da cidade moderna.
Em 1933, a publicação do poema “O Triunfo da Agricultura” acarretou-lhe sérios dissabores. Foi preso provavelmente em1938, passando sete anos na Sibéria.
Estabeleceu-se em Moscou sem 1946. Após a volta do degredo, sua poesia modificou-se completamente: adquire acento filosófico, tranquilo, neoclássico. O próprio poeta parecia completamente transformado. O escritor e eslavista italiano Angelo Maria Ripellino, que o visitou em Moscou, ouviu dele “aqueles fáceis slogans que mutilaram durante anos a cultura soviética” (cf. Diário con Zabolóckij in Literatura como itinerário nei meraviglioso, Turim, Einaudi, 1968).
Zabolótzki deixou também valiosas traduções de poesia.
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ANTOLOGIA RUSSA MODERNA. Traduções de Augusto e Haroldo de Campos com a revisão ou colaboração de Boris Schnaiderman. Apresentação, resumos biográficos e notas de Boris Schnaiderman. Rio de Janeiro: Editôra Civilização Brasileira S. A., 1968.. Desenho
de capa:Marius Lauritzen Bern. (Coleção POESIA HOJE, Série Antologias Volume 17. Direção de Moacyr Felix.
Ex. bibl. Antonio Miranda
Vai-se o Zodíaco de Ouro
Vai-se o Zodíaco de ouro
Sobre a planura espectral.
Cochila o bicho Cachorro,
Dorme o pássaro Pardal.
As ondinas, bundalarga,
Voam retas para o céu, —
Braços fortes como varas,
Nabos de peitos sem véu.
Uma bruxa num triângulo
É fumaça e se esvaiu.
Falecidos e silvanas
Dançam cake-walk no cio.
Atrás deles, coro e palio.
Feiticeiros caçam Mosca.
Sobre a encosta, vulto esquálido,
A lua de cara fosca.
Vai-se o Zodíacoa de ouro
Pelos telhados da aldeia.
Cochila o bicho Cachorro,
Peixe-galo cabeceia.
Matrquinha tique-taca,
Dorme o animal Aranha,
Dorme a Mosca, dorme a Vaca,
O luar desemaranha.
Sobre a terá uma gamela
Entornada já, enorme.
Silvano tirou a tramela
Das barbas do lobisomem.
Vem a sereia descendo
Da nuvem, perna de fora.
O ogro rói o pudendo
De um gentleman de cartola.
Tudo gira em contradança,
Tudo voa e desconjunta,
Humadriades de trança,
Pulgas, defuntos, defuntas.
Bacharel de eras passadas,
General dos novos tempos —
Meu bestunto! Estes fantasmas
São delírios sonolentos.
São delírios, desatinos,
Da mente que perde o prumo,
Pesares sem lenitivo,
Figurações do outro mundo.
Vai alta a hora terrestre.
Bestunto, velho guerreiro,
Descansa. Logo amanhece,
O sono é bom companheiro.
Que importam dúvidas? Nada!
Um dia a mais, outro a menos...
Bichos deuses, despertaremos
No umbral de nova jornada.
Matraquinha tique-taca,
Dorme o animal Aranha,
Dorme a Mosca, dorme a Vaca,
O luar desemaranha.
Sobrea a terra uma gamela
Entornada, jaz, enorme...
Dorme a planta Berinjela,
Durmo eu e você dorme.
1933
(Tradução de Haroldo e Augusto de Campos e
Boris Schnaiderman.)
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Página publicada em março de 2021
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